segunda-feira, 18 de maio de 2015

Smartphones sob controle de professores

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/smartphones_sob_controle_de_professores.html

Smartphones sob controle de professores

Estojos especiais são testados para impedir distração na sala de aula 



Larry Greenemeier

                                                                                                               Megan Geuss

Pouco se discute que o uso cada vez maior de smartphones entre alunos de escolas tenha criado um conjunto completamente novo de desafios para educadores que procuram manter suas classes concentradas no aprendizado. Os mesmos dispositivos móveis que podem ser usados como ferramentas de instrução e pesquisa também podem servir como distração ou fonte de conflito quando confiscados.

Inicialmente, muitas escolas dos Estados Unidos reagiram ao uso de telefones celulares por parte de estudantes ao banir os dispositivos das salas de aula, citando preocupações de que eles poderiam ser usados para ajudar alunos a “colar” em provas, além de praticar cyber bulling e sexting. Mais recentemente, as coisas começaram a mudar quando algumas escolas adotaram o uso de telefones móveis como leitores eletrônicos e maneiras convenientes de alunos se conectarem à Internet. O Departamento de Educação da Cidade de Nova York, por exemplo, cancelou sua proibição de nove anos sobre o uso de telefones celulares em escolas públicas.

Uma escola de Portland, no Oregon, está testando uma abordagem que espera minimizar distrações digitais durante a aula sem alienar alunos que têm vidas sociais e identidades entrelaçadas a seus dispositivos. A solução proposta na Sunnyside Environmental School: professores e alunos inserem seus telefones em uma bolsa com trava, que carregam consigo durante o dia. O mecanismo de destravamento fica a cargo dos professores. No fim do período escolar, o professor destrava as bolsas e todos continuam com suas vidas digitais. Dessa forma, eles ficam incapacitados de compulsivamente verificar seus emails, enviar mensagens de texto ou tirar fotos, a menos que o professor dê permissão.

start-up Yondr, com sede em San Francisco, introduziu as bolsas no ano passado para organizadores de eventos musicais que tentavam fazer indivíduos sedesconectarem durante apresentações ao vivo. Cada participante do evento recebe um estojo elástico de neoprene da Yondr, que se fecha com um selo magnético. O estojo só pode ser aberto se algum funcionário do local ativar um dispositivo especial que emite um sinal sem fio para a trava. “A etiqueta e as normas sociais tendem a ser esquecidas no uso de novas tecnologias”, explica Graham Dugoni, fundador da Yondr. Em vez de tentar censurar pessoas por estarem obcecadas com seus dispositivos, o objetivo da Yondr é ajudá-las a observar melhores normas de comportamento, adiciona ele.

O coordenador de sustentabilidade de Sunnyside, Vinnie Miller, viu o potencial da tecnologia da Yondr nos ensinos fundamental e médio de sua escola, que tem um currículo ambiental e aproximadamente 600 alunos matriculados. “Nós queremos mostrar aos alunos que pode haver uma diferença na maneira de interagem uns com os outros e com seus professores quando todos estiverem presentes e engajados em uma aula específica”, explica Miller, que também é aluno de graduação e estuda serviço social na Portland State University. Miller também queria expor os alunos à própria Yondr, uma start-up que poderia trazer lições sobre empreendedorismo.  

Até agora, cerca de 150 anos do ensino médio testaram as bolsas da Yondr durante um dia escolar. Esse dia começa com uma discussão sobre os esforços de Dugoni para ajudar pessoas a se desconectarem de seus dispositivos móveis e de como ele transformou esse conceito em uma empresa. “Eles estão testando uma ideia nova e trazendo feedback sobre ela ao mesmo tempo”, declara Miller. As crianças que não querem usar a tecnologia normalmente afirmam que seus dispositivos não vão distraí-los, não cabem nas bolsas da Yondr, ou que deixaram seus telefones em casa naquele dia, adiciona Miller.

Uma vez que o experimento é explicado, os alunos e seu professor inserem seus telefones em estojos da Yondr que carregam consigo o dia todo. Alunos envolvidos no experimento tendem a ficar hesitantes para admitir que a experiência foi melhor para eles, ainda que alguns confessem que a bolsa da Yondr tenha ajudado a esquecer sobre o telefone durante algum tempo, declara Miller. Os alunos também apreciam o fato de a escola não estar confiscando seus telefones para ensinar uma lição específica, adiciona ele.

A Sunnyside instituiu uma estrita política de telefones móveis há cerca de dois anos, após um grupo de alunos criar uma página no Instagram onde postavam piadas e apontavam os defeitos de outros alunos, conta Miller. “Foi então que os professores se reuniram e decidiram se tornar mais firmes com a política de telefones celulares”. A atual política é direta: alunos não podem usar esses dispositivos durante o período letivo a menos que professores peçam especificamente que sejam usados como calculadoras ou ferramentas de pesquisa online. Se um aluno precisar fazer uma chamada telefônica, deve ir à secretaria da escola ou notificar um professor. Alunos ainda trocam fotos e mensagens digitais para desafiar as regras, reconhece Miller.

Caberá aos professores de Sunnyside decidir se querem adotar a tecnologia da Yondr. Enquanto isso, pelo menos estão realizando experimentos com uma abordagem que oferece uma espécie de compromisso entre o uso irrestrito de telefones celulares e uma proibição direta. 

Publicado por Scientific American em 8 de maio de 2015.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Como os astronautas vão ao banheiro?

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/05/como-os-astronautas-vao-ao-banheiro.html

BBC
13/05/2015 07h33 - Atualizado em 13/05/2015 07h33

Como os astronautas vão ao banheiro?

Astronauta italiana Samantha Cristoforetti explica como ela e colegas da Estação Espacial Internacional mantêm higiene pessoal.

Da BBC
Astronauta italiana Samantha Cristoforetti explica como ela e colegas da Estação Espacial Internacional mantêm higiene pessoal (Foto: Reprodução/ESA/BBC)Astronauta italiana Samantha Cristoforetti explica como ela e colegas da
Estação Espacial Internacional mantêm higiene pessoal
(Foto: Reprodução/ESA/BBC)















Certamente você já se fez a seguinte pergunta: como é que os astronautas vão ao banheiro quando estão no espaço? E escovam os dentes? Ou tomam banho?
Com grande delicadeza e riqueza de detalhes, a astronauta italiana Samantha Cristoforetti explicou em uma série de vídeos divulgados pela Agência Espacial Europeia como ela e seus colegas da Estação Espacial Internacional mantêm a higiene pessoal como estivessem na Terra.
Ao contrário do que se pode pensar, muitos instrumentos que são utilizados para o asseio – escova de dente, banho e desodorante não diferem muito daqueles que usamos.
As toalhas, porém, são um assunto à parte: possuem um material absorvente, mas fino, e são substituídas uma vez por semana.
A cada dois dias, os astronautas podem, no entanto, se dar ao luxo de usar outra toalha que Cristoforetti chama de "acampamento", usada úmida para esfregar o corpo.
A água é armazenado em um pequeno recipiente e, em seguida, aplicado ao corpo.
Pela falta de gravidade, no entanto, a água não cai no chão, mas permanece sobre a pele em forma de bolhas.
E adicionando um pouco de sabão líquido, que não faz muita espuma e não requer enxágue, o astronauta pode "tomar banho" e desfrutar de uma sensação de limpeza igual a que tinha em terra firme.
No entanto, explica Cristoforetti, nem sempre esse processo pode ser feito por falta de tempo.
Cabelo limpo
Lavar o cabelo não é tão complicado. Só é necessário um shampoo que não exige enxágue, adicionar algumas gotas de água e massagear o cabelo normalmente. O excesso de água é então removido com uma toalha.
As toalhas são depois deixadas para secar nas proximidades do sistema de ventilação. A água evapora e um sistema de ar condicionado a condensa e a recupera.
"Não desperdiçamos nenhuma gota de água que usamos para o banho", diz a astronauta italiana.
Cortar as unhas
Escovar os dentes é uma tarefa um pouco mais difícil: o processo é semelhante ao realizado na Terra até chegar a hora de cuspir a água misturada com pasta de dente.
Como não há uma pia onde cuspir, "alguns astronautas simplesmente engolem: é rápido e simples. Mas eu, pessoalmente, não gosto, então eu cuspo tudo em uma toalha", diz Cristoforetti.
"Não é muito elegante, mas você faz o que tem de fazer."
Na hora de cortar as unhas, também é preciso ter cuidado para que – por causa da gravidade zero – não espalhar pedaços flutuantes em todos os lugares.
"O melhor é fazê-lo é perto da saída da ventilação para que os pedaços de unha sejam sugados e fiquem ali", diz ele. "Aí depois você remove tudo com um aspirador de pó."
'Número um, número dois'
Quando se trata de ir ao banheiro, há uma pequena sala com um sistema para que os astronautas possam se aliviar.
Para urinar, os astronautas usam um pequeno funil ligado a um tubo com um aspirador para que o líquido não saia flutuando.
A urina é, então, filtrada e, por uma série de processos químicos, se torna potável e adequada para o consumo humano.
E quanto ao "número dois"? Segundo Cristoforetti, "o princípio é exatamente o mesmo: o de sucção".
O vaso sanitário está conectado a um recipiente para resíduos sólidos, que, com uma tripulação de três astronautas, é trocado aproximadamente a cada dez dias.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Humanoide ainda não convence

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/humanoide_ainda_nao_convence.html

Humanoide ainda não convence

Atendente robótica estreou em loja no Japão e pequeno robô dá informações em banco


por Katherine Harmon Courage 

                                                                                                                            CNET



Uma funcionária incomum estreou na semana passada na elegante loja de departamentos Mitsukoshi em Tóquio, no Japão.

Seu nome é Aiko Chihira e ela é procedente de Kawasaki, pouco ao sul da capital japonesa.

Funcionária incansável, Chihira recita um discurso excelente e detalhado sobre a imensa loja, de 12 andares, e seus próximos eventos.

Mas, de acordo com seus patrões, ela não é uma boa ouvinte.

De fato, embora fale fluentemente japonês, e até domine a linguagem de sinais nesse idioma, perguntas de fregueses frequentemente ficam sem resposta.

Na realidade, seus ouvidos habilidosamente esculpidos como os de humanos, não respondem.

Chihira é um robô humanoide de tamanho humano real, mas incapaz de conversar, que permaneceu na loja até 5 de maio.

Atualmente, ela só “tagarela” informações em japonês, mas também sabe falar, e cantar, em outras línguas.

Essa criação da Toshiba fez sua estreia pública na Combined Exhibition of Advanced Technologies (CEATEC) do Japão, no final de 2014, mas sua aparição na Mitsukoshi marca seu primeiro “trabalho” direto com clientes.

Robôs trabalhando ao lado de pessoas não são exatamente uma novidade.

Eles têm sido uma parte do mundo de produção há décadas, mas em geral em forma muito menos humana.

Foi só recentemente que ganharam aparências tão realistas e passaram a ter um desempenho no mundo mais personalizado de atendimento a clientes

Uma semana antes de Chihira chegar ao seu cargo na Mitsukoshi, um robô menor começou a trabalhar em período integral no Banco de Tóquio, sede da Mitsubishi UFJ.

O robô “Nao” mais parece um personagem amigável de um desenho em quadrinhos que um falso humano.

Produzido pela Aldebaran Robotics, o Nao, do tamanho de uma criança pequena, é capaz de entender e responder a perguntas de clientes em japonês, chinês e inglês.

Ele pode até reconhecer expressões faciais humanas, de acordo com reportagem do The Wall Street Journal.

Nesse verão boreal, um robô maior da Aldebaran, chamado Pepper, deverá estrear no Banco Mizuho do Japão.

Com preço em torno de US$ 2.000, Pepper foi criado com o objetivo de levar robôs para domicílios, assim como balcões de lojas.

Mas, o que distingue Chihira de seus outros companheiros de serviços, além de sua inaptidão interpessoal, é sua aparência humanoide.

Trajada em um quimono e tradicionais sandálias japonesas, ela foi criada para se assemelhar a uma mulher japonesa média de seus 30 anos.

Os detalhes em seu rosto e nas mãos são impecáveis.

De longe certamente seria possível confundi-la com um humano.

Mas, assim que começa a se mover, ela é rapidamente identificável como máquina.

Mesmo entre os funcionários graduados extremamente formais e bem-treinados da loja, suas poucas dezenas de motores tornam seus movimentos distintamente mecânicos.

Sua cabeça e o tronco giram para a direita e a esquerda (ela também pode se curvar) e seus braços parecem deslizar em planos definidos.

Certamente o caminho ainda parece longo antes que esse agradável, C-3PO [referência ao androide do mundo fictício de Guerra nas Estrelas] de “carne e osso” seja confundido com um humano vivo em ação ou talvez até entrar no chamado “vale da estranheza”.

[O vale da estranheza (uncanny valley, em inglês) é uma hipótese no campo da estética robótica e animação 3D segundo a qual quando réplicas humanas parecem e se comportam de um jeito muito parecido — mas não idêntico — a humanos reais, elas provocam repulsa entre alguns observadores humanos.]

Após um breve período nas proximidades da entrada principal da histórica loja, Chihira foi transferida para uma vitrine no sétimo andar para tagarelar lá em cima.

Em uma quinta-feira à noite, três dias após sua chegada à, alguns fregueses curiosos, ou talvez “caçadores de robôs”, pararam por alguns minutos para observar Chihira exercendo sua função.

A maioria pareceu silenciosamente interessada e impressionada com seus traços realistas e a atenção dedicada a detalhes, como a coloração de seu rosto e as finas linhas naturais, mimetizando pele, em suas mãos.

Mas nessa movimentada metrópole repleta de alta tecnologia ninguém pareceu terrivelmente chocado ou preocupado.

Chihira ainda não está pronta para assumir os empregos das bio-unidades ao redor dela.

Pelo contrário, ela e seus congêneres ainda são geradores de empregos para programadores, engenheiros, designers e guias ou acompanhantes humanos.

E, pelas aparências, tudo indica que esses humanos ainda têm muito trabalho pela frente.

Publicado em Scientific American em 4 de maio de 2015.

sábado, 2 de maio de 2015

Não há supercivilização alienígena nas 100 mil galáxias próximas

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/nao_ha_supercivilizacao_alienigena_nas_100_mil_galaxias_proximas.html

Não há supercivilização alienígena nas 100 mil galáxias próximas

A mais profunda busca por artefatos de “astroengenharia” volta vazia


Lee Billings


                                                                                     NASA/JPL-Caltech/WISE Team
Espirais alaranjadas de poeira aquecida por estrelas preenchem os braços da galáxia de 
Andrômeda nessa imagem em falsa cor de infravermelho médio obtida com o telescópio
espacial WISE, da Nasa. Essas imagens também poderiam revelar o calor residual de
civilizações galácticas avançadas. 



A astrobiologia – o estudo da vida extraterrestre – já fez grandes avanços desde sua origem nos anos 1960, quando o biólogo evolutivo George Gaylord Simpson a ridicularizou como “uma ciência sem objeto de estudo”. Atualmente, essa ciência está crescendo como nunca, conduzida pelo alto e constante interesse público e uma respeitabilidade científica que aumenta constantemente.

Em uma conferência de imprensa na semana passada, dois oficiais da Nasa – Ellen Stofan, cientista-chefe da agência, e John Grunsfeld, ex-astronauta que é administrador associado dos programas científicos da Nasa – previram que astrobiólogos finalmente encontrariam seus elusivos objetos de estudo alienígena dentro de uma ou duas décadas. Há pouco tempo essa previsão teria sido ousada, mas agora ela parece quase trivial enquanto cada vez mais evidências se acumulam mostrando que as condições quentes e úmidas necessárias para a vida como a conhecemos dominam o Cosmo. Certamente a vida simples, unicelular, deve ser comum lá fora, esperando para ser encontrada por uma sonda em lagos subterrâneos de Marte ou por uma missão enviada para analisar os oceanos da gélida lua Europa, ou até por meio de telescópios que observam planetas semelhantes à Terra orbitando estrelas distantes. A Nasa financia generosamente todos esses trabalhos.

A possível existência de alienígenas e civilizações extraterrestres, por outro lado, permanece muito mais controversa e quase não recebe financiamento. Mesmo assim, durante mais de meio século, um pequeno e disperso contingente de astrônomos foi contra a maré, engajando-se na busca por inteligência extraterrestre (projeto conhecido como SETI). O SETI procura principalmente culturas cósmicas tagarelas que podem estar enviando mensagens ao redor de nossa região da galáxia usando ondas de rádio ou pulsos laser. Mas essa escuta interestelar ainda não detectou nenhum sinal que resistisse a uma análise mais detalhada. Mesmo se estiver transbordando com vida, para nós a galáxia parece ser um lugar silencioso e bastante solitário.

Agora, novos resultados sugerem que essa solidão pode se estender ao universo muito além de nossa galáxia ou, em vez disso, que algumas de nossas preconcepções sobre o comportamento de civilizações alienígenas sejam profundamente falhas. Após examinar cerca de 100 mil galáxias próximas, uma equipe de pesquisadores conduzida pelo astrônomo Jason Wright, da Pennsylvania State University, concluiu que nenhuma delas contém qualquer sinal óbvios de civilizações altamente avançadas tecnologicamente. Publicada no The Astrophysical Journal Supplement Series, esse é de longe o maior estudo desse tipo até o momento – pesquisas anteriores só investigaram cerca de cem galáxias, por curiosidade.

Mais calor que luz

Ao contrário de pesquisas tradicionais do SETI, Wright e sua equipe não procuraram mensagens vindas das estrelas. Em vez disso, eles procuraram consequências termodinâmicas de colonização em escala galáctica, com base em uma ideia levantada em 1960 pelo físico Freeman Dyson. Dyson postulou que uma cultura tecnológica em crescimento acabaria ficando limitada pelo acesso à energia e que civilizações avançadas, com necessidade de energia, seriam levadas a coletar toda a luz disponível de suas estrelas. Para fazer isso, eles poderiam desmantelar um planeta ou dois para usar na construção de coletores solares que envolvessem a estrela inteira. A luz de uma estrela desapareceria quando ela fosse encapsulada por essa “esfera de Dyson”, mas o físico apontou que essas construções poderiam ser detectadas pelo brilho infravermelho médio de seu calor residual – essencialmente o mesmo fenômeno que faz seu computador esquentar quando ligado. Em 1963, o astrônomo russo Nikolai Kardashev estendeu essas ideias ao desenvolver um sistema de classificação tripartite para o uso energético de uma civilização. Uma civilização do “tipo 1” utilizaria toda a energia de seu planeta natal, enquanto uma civilização do tipo 2 usaria toda a energia de sua estrela, talvez ao construir uma esfera de Dyson ao seu redor. Uma civilização do tipo 3 seria capaz de usar toda a energia de sua galáxia, talvez ao abrigar todas as suas estrelas em esferas de Dyson.

Incapaz de conseguir financiamento de fontes como a Nasa ou a Fundação Nacional de Ciências, a equipe de Wright decidiu pedir auxílio à Fundação Templeton, uma organização particular com um histórico de apoiar pesquisas controversas e especulativas. Com esse financiamento, a equipe procurou civilizações do tipo 3 em um catálogo de todo o céu produzido pelo Explorador de Pesquisa Infravermelha em Campo Vasto (WISE, em inglês). Eles procuraram objetos que fossem oticamente tênues, mas brilhantes na faixa de infravermelho médio – a assinatura esperada de uma galáxia cheia de esferas de Dyson que absorvessem luz estelar e emitissem calor. Após usar softwares para filtrar automaticamente cerca de 100 milhões de objetos no catálogo do WISE, o aluno de Wright, Roger Griffith, examinou os candidatos restantes manualmente, eliminado os que não fossem galáxias ou que fossem artefatos instrumentais óbvios.

O resultado final trazia aproximadamente 100 mil galáxias, e cerca de 50 delas emitiam muito mais calor que luz. Jessica Maldonado, aluna da California State Polytechnic University, em Pomona, varreu a literatura astronômica para determinar o que já era conhecido sobre esses principais candidatos. A maior parte desses objetos já havia sido bem estudada, e podia ser explicada como pares de galáxias em processo de fusão ou como galáxias isoladas do tipo “starburst” [basicamente uma galáxia em fase de produção estelar intensa] – dois processos que podem aquecer quantidades galácticas de poeira bloqueadora de luz para gerar poderosos brilhos infravermelhos. De acordo com os pesquisadores, 90 galáxias adicionais com proporções menores de calor-para-luz pedem mais estudos mas, de modo geral, os resultados são nulos. “Na escala de Kardashev, uma civilização do tipo 3 usa energia igual a toda a luz estelar produzida por uma galáxia”, explica Wright. Isso seria equivalente a uma galáxia que brilhasse em infravermelho mas fosse quase destituída de estrelas. “Nós observamos as mais de 100 mil galáxias mais próximas que conseguimos encontrar no catálogo do WISE e nunca vimos nada. Cem mil galáxias e nenhuma delas tinha essa assinatura. Não encontramos nenhum tipo 3 em nossa amostra porque não havia nenhum”.  

Mesmo se civilizações avançadas não construírem esferas de Dyson, o resultado nulo de Wright também se aplica a quaisquer outros tipos de “astroengenharia” de energia intensa ocorrendo em escalas galácticas. “Procurar por calor residual e ausência de luz como fizeram Wright e seus colegas, é muito interessante”, avalia James Annis, astrofísico do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi (FermiLab) que, no final dos anos 1990, usou métodos diferentes para analisar mais de cem galáxias próximas em busca de tipos 3. “De certa forma, não importa como uma civilização galáctica obtém ou usa sua energia porque a segunda lei da termodinâmica torna esse uso difícil de esconder. Eles poderiam construir esferas de Dyson, obter energia a partir de buracos negros em rotação, construir redes gigantes de computadores nos limites gelados de galáxias, e tudo isso produziria calor residual. A equipe de Wright foi direto ao pico da curva onde esperaríamos encontrar qualquer tipo de calor residual, e simplesmente não encontraram nada óbvio”.  

Contra o império

A simples ideia de que podem haver impérios galácticos lá fora vem de extrapolações razoáveis de nossa própria situação aqui na Terra.

Nós sabemos que em pelo menos um planeta a vida microscópica emergiu, e que a vida escalou a escada evolutiva para constituir corpos grandes, cérebros, sociedades e até tecnologias que poderiam levá-la a outros planetas – talvez até a outras estrelas. Se isso aconteceu aqui, por que não poderia acontecer em algum dos outros bilhões de planetas habitáveis que atualmente se estima preencherem cada galáxia? “A vida, uma vez que começa a viajar pelo espaço, parece poder ser capaz de cruzar a galáxia em apenas 50 milhões de anos”, observa Annis. “E 50 milhões de anos é um tempo muito curto se comparado às escalas temporais de bilhões de anos de planetas e galáxias. Era de se esperar que a vida atravessasse a galáxia muitas vezes nos quase 14 bilhões de anos de vida do Universo. Talvez civilizações espaciais sejam raras e isoladas, mas basta que uma delas queira modificar sua galáxia para que possamos ver o que está acontecendo. Se observarmos galáxias o bastante, deveríamos acabar vendo algo obviamente artificial. Então isso é muito desconfortável: quanto mais olhamos, mais natural tudo parece ser”.

Com o passar dos anos, pesquisadores criaram uma vasta coleção de possíveis explicações para o fracasso do SETI em encontrar alienígenas. Talvez estejamos sozinhos ou alguma restrição imposta pela astrofísica e biologia torne a vida inteligente extremamente rara, ou talvez civilizações tecnológicas sempre se autodestruam, ou quem sabe a viagem interestelar simplesmente seja difícil demais, lenta demais ou chata demais. Annis suspeita que explosões astrofísicas capazes de esterilizar galáxias inteiras, chamadas de erupções de raios gama, que eram muito frequentes no passado cósmico, até recentemente suprimiam a ascensão de civilizações avançadas e que nós habitamos “o início da história”.

Mas por mais que a literatura científica seja rica em ideias, algumas das mais fascinantes vêm da ficção científica. Em 2011, com base na famosa observação de Arthur C. Clarke de que “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”, o autor de ficção científica Karl Schroeder cunhou uma razão bastante plausível para a aparente ausência de alienígenas: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da natureza”. Nessa visão, o futuro da tecnologia não consistiria de civilizações estelares se espalhando como fogo por galáxias, desintegrando planetas e sufocando sóis, mas de culturas de crescimento lento se tornando cada vez mais integradas a seus ambientes naturais, buscando eficiências cada vez maiores e chegando cada vez mais perto do equilíbrio termodinâmico. De maneira simples, impérios galácticos extravagantes são insustentáveis e por isso não os vemos. “O SETI é basicamente uma busca por resíduos tecnológicos”, escreve Schroeder. “Calor residual, luz residual, sinais eletromagnéticos residuais – nós só precisamos postular que civilizações bem sucedidas não produzem esse tipo de resíduos, e o fracasso do SETI está explicado”.  

De acordo com David Brin, astrosífico que também escreve best-sellers de ficção científica contemplando o “Grande Silêncio” do Universo, o expansivo estudo de Wright deixa aberta a possibilidade das esferas de Dyson, mas pode ser o último prego no caixão de noções antiquadas sobre impérios gigantescos que usam galáxias inteiras em busca de energia. “Por que seres avançados precisariam ou desejariam isso?” pergunta Brin. “Apenas um projeto incrivelmente vasto justificaria esse tipo de ganância... Não haveria mais sistemas gentis e agradáveis como o nosso; tudo seria convertido para o uso industrial. Esse é o traço de usuários vorazes que ou tem um grande motivo, ou uma grande insaciabilidade”.

O que há por vir

Em 1973, Carl Sagan divisou uma fórmula mais empírica para a escala de Kardashev que permitia gradações mais finas. De acordo com seus cálculos, nossa atual civilização planetária era do tipo 0,7 e chegaria ao tipo 1 dentro de mais alguns séculos de crescimento sustentado e uso de energia, que nos últimos séculos cresceu cerca de 3% ao ano. Para sustentar essa tendência, a humanidade precisaria construir uma esfera de Dyson dentro de aproximadamente um milênio, tornando-se do tipo 2, e precisaria cobrir a maior parte das estrelas da Via Láctea em esferas de Dyson um milênio mais tarde, tornando-se tipo 3.  

As implicações são claras: dentro de um número relativamente baixo de gerações – um breve momento se comparado a toda a história humana – ou precisaríamos remodelar o sistema solar e depois uma grande parte da própria galáxia, ou nossa civilização precisaria mudar para uma tendência de crescimento radicalmente diferente, menos intensa energeticamente. Na década de 1960, durante os incríveis anos iniciais da era espacial, era mais fácil acreditar que a primeira hipótese era mais provável; atualmente, calamidades ecológicas e econômicas fazem a segunda parecer mais certa. Essa profecia numérica de crescimento mais silencioso e lento, até mesmo estase, é consistente com os resultados nulos de buscas tradicionais do SETI assim como as raras e heterodoxas buscas dysonianas de Wright, Annis e alguns outros.

Supondo que consiga mais financiamento, Wright pretende conduzir trabalhos para investigar algumas das galáxias mais estranhas de sua pesquisa, procurando civilizações mais baixas na escala de Kardashev. Ele também espera examinar um curioso aglomerado de fontes pontuais oticamente escuras logo fora do plano galáctico da Via Láctea, que sua equipe descobriu com base em seus brilhos infravermelhos nos dados do WISE. O aglomerado provavelmente é uma nuvem molecular gigante que ainda não conhecíamos, um berçário estelar ainda não mapeado cheio de protoestrelas, comenta Wright. Mas “é quase exatamente o que você esperaria ver em um aglomerado de esferas de Dyson”. Parece que o sonho de Dyson ainda vive.

Dyson, atualmente com 91 anos de idade mas sempre pronto para falar sobre o SETI em seu escritório no Instituto de Estudos Avançados em Princeton, Nova Jersey, declara que os resultados nulos não são surpreendentes mas que não deveriam ser desanimadores. “O que imaginamos sobre como alienígenas podem se tornar detectáveis sempre é como a história de um gato negro em uma sala escura”, observa Dyson. “Se existem alienígenas de verdade, é provável que eles se comportem de maneiras que nunca imaginamos. O resultado do WISE mostra que alienígenas não seguiram um caminho específico. É bom saber disso. Mas ainda temos uma imensa variedade de caminhos abertos. O fracasso de uma ideia não significa que deveríamos parar de procurar alienígenas”.



Publicado por Scientific American em 17 de abril de 2015.

Cientistas descobrem no Chile o 'ornitorrinco' dos dinossauros

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/04/cientistas-descobrem-no-chile-o-ornitorrinco-dos-dinossauros.html

28/04/2015 08h06 - Atualizado em 28/04/2015 08h06

Cientistas descobrem no Chile o 'ornitorrinco' dos dinossauros

'Chilesaurus diegosuarezi' tem corpo que lembra vários grupos de dinossauros.
Segundo pesquisadores, é a espécie 'mais bizarra' já encontrada.

Da Reuters
Ilustração mostra exemplar da nova espécie de dinossauro batizada de 'Chilesaurus diegosuarezi' (Foto: Gabriel Lio/University of Birmingham/Reuters)Ilustração mostra exemplar da nova espécie de
dinossauro batizada de 'Chilesaurus diegosuarezi'
(Foto: Gabriel Lio/University of Birmingham/Reuters)
Cientistas encontraram fósseis de um dinossauro estranho no sul do Chile, com uma combinação tão incomum de traços, que forçou a equipe a comparar o "novo" réptil a um ornitorrinco, mamífero australiano com bico de pato que põe ovos.
Nomeado Chilesaurus diegosuarezi, o dinossauro é membro do mesmo grupo doTyranossaurus rex, terópodes, que inclui o maior carnívoro terrestre da história. No entanto, o lagarto pré-histórico só comia plantas, com um bico e dentes em formato de folha.
O crânio e o pescoço lembram os dinossauros primitivos que possuíam o pescoço comprido, e a vértebra remete aos carnívoros. O novo dinossauro possui braços robustos, mas com dois dedos em cada mão.
Era bípede, mas seus pés largos e com quatro dedos cada eram diferentes da maioria dos terópodes. Os fósseis também mostraram que o animal descoberto possuía uma pélvis semelhante a de pássaros.
"O Chilesaurus constitui um dos dinossauros mais bizarros já encontrados", disse o paleontólogo Fernando Novas, do Museu Bernardino Rivadavia de Ciências Naturais, em Buenos Aires, chamando a criatura de um "quebra-cabeça".
Filhotes de ornitorrinco em zoológico australiano. (Foto: AFP)Filhotes de ornitorrinco em zoológico australiano: é um
mamífero que tem bico de pato e põe ovos(Foto: AFP)
"A anatomia do esqueleto junta características de diferentes grupos de dinossauros, como se um piso fosse formado por um mosaico de diferentes formas e cores. Nenhum outro dinossauro exibe tal combinação ou mistura", acrescentou.
O animal viveu em uma região de rios no final do período Jurássico, aproximadamente 145 milhões de anos atrás. Era relativamente pequeno, atingindo no máximo 3,2 metros de altura, embora a maior parte dos espécimes encontrados fossem do tamanho de um peru.
Quatro esqueletos quase completos e dúzias de ossos de outros indivíduos foram encontrados, tornando o Chilesaurus um dos dinossauros mais conhecidos do período Jurássico do Hemisfério Sul. A pesquisa foi apresentada na revista "Nature".