domingo, 29 de março de 2015

Como seria viver sem emoções?

Glifosato é classificado como provavelmente cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde

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Glifosato na mira

Herbicida mais vendido no Brasil e no mundo é classificado como provavelmente cancerígeno para humanos pela Organização Mundial da Saúde. O tema é destaque da coluna de Jean Remy Guimarães, que critica a falta de divulgação da notícia na imprensa nacional.
Por: Jean Remy Davée Guimarães
Publicado em 27/03/2015 | Atualizado em 27/03/2015
Glifosato na mira
O glifosato, presente em cerca de 750 herbicidas, foi classificado como provavelmente cancerígeno, com base em estudos que mostram aumento da taxa de câncer entre agricultores e jardineiros expostos. (foto: Austin Valley/ Flickr – CC BY 2.0)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece recomendações e sugere normas para a exposição a milhares de substâncias diferentes. Esse é um processo contínuo, uma vez que novos compostos continuam chegando ao mercado, assim como são publicados novos dados ecotoxicológicos sobre compostos já em uso. O processo é longo, caro e complexo e, entre outros resultados, fornece classificações de risco.
Conforme a quantidade e contundência das evidências científicas, temperadas pela ‘insistência técnica’ de eventuais lobbies corporativos interessados em influir no resultado, um composto ou produto pode ser classificado como cancerígeno para humanos ou provavelmente cancerígeno para humanos. Há também a categoria ‘possivelmente’, e a ‘não sei’. É comum que um composto passe da segunda (provável) para a primeira categoria, mas não se tem conhecimento de exemplo na direção contrária.
O tempo entre o surgimento das evidências de um risco e a emissão de uma norma para domá-lo costuma ser dolorosamente longo, especialmente para os que têm o privilégio duvidoso de terem sido suas primeiras vítimas documentadas.
O tempo entre o surgimento das evidências de um risco e a emissão de uma norma para domá-lo costuma ser dolorosamente longo
As sugestões da OMS têm autoridade moral, mas não legal, e podem ser adotadas pelos seus países-membros, ou não.
Para facilitar a navegação pelo mar revolto de estudos in vitroin vivo, com bactérias, animais e plantas, somados aos poucos estudos epidemiológicos em humanos, a OMS adotou há cerca de 40 anos a saudável prática de convocar regularmente grupos de especialistas para avaliar e reavaliar a toxicidade e o potencial carcinogênico de determinados compostos. O critério para a escolha dos especialistas é rigoroso: devem aliar alta credibilidade científica com total ausência de conflito de interesse na matéria.
Os especialistas não chegam para as reuniões de jaleco e pipetador na mão, pois não vão fazer nenhum novo estudo. A missão é compilar, avaliar e discutir os estudos existentes na literatura até aquele momento e confirmar ou alterar as classificações de risco existentes. Observadores da indústria e/ou de outras agências de classificação de risco sanitário ou ambiental podem assistir aos debates. Só assistir.

Glifosato, OGMs e câncer

Um dos mais importantes grupos avaliadores da OMS é a Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês). E, em 20 de março de 2015, a IARC publicou on-line na prestigiosa The Lancet Oncology os resultados de uma avaliação que seria rotineira se não se referisse, entre outros pesticidas, ao carro-chefe da linha de produtos da Monsanto (companhia multinacional de agricultura e biotecnologia): o glifosato, princípio ativo do herbicida Roundup e de muitas outras formulações de mesma finalidade.
Roundup
O glifosato é o princípio ativo do herbicida Roundup, carro-chefe da linha de produtos da multinacional Monsanto, e de muitas outras formulações com a mesma finalidade. (foto: London Permaculture/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)
Campeão mundial de vendas, o glifosato está presente em cerca de 750 produtos diferentes usados como herbicidas na agricultura, silvicultura, jardinagem doméstica e urbana.
O pulo do gato da estratégia comercial da Monsanto é o desenvolvimento de cultivares geneticamente modificados para resistir ao Roundup, enquanto as demais plantas definham sob o mesmo. São os chamados OGMs ‘Roundup-ready’. Previsivelmente, o consumo de Roundup aumenta com a ampliação da superfície plantada com transgênicos. Também aumenta com a crescente resistência das ervas daninhas ao herbicida, mas isso é outra história.
No momento, a questão é que a IARC decidiu classificar o glifosato como provavelmente cancerígeno (categoria 2A). Fez o mesmo com outros pesticidas como diazinon e malathion, mas isso foi marola em comparação com o tsunami da inclusão do glifosato.
Os estudos envolviam casos-controle de exposição ocupacional de agricultores e jardineiros na Suécia, Estados Unidos e Canadá e mostram aumento da taxa de câncer em indivíduos expostos
Os estudos que convenceram os 17 membros da IARC a tomar a decisão tão corajosa não envolviam a população em geral, mas sim casos-controle de exposição ocupacional de agricultores e jardineiros na Suécia, Estados Unidos e Canadá. Os estudos mostram aumento da taxa de câncer – particularmente linfoma não-Hodges – em indivíduos expostos. Em animais, os estudos evidenciaram danos cromossômicos, maior risco de câncer de pele, de rim e de adenomas no pâncreas. Nada mau para um composto apresentado em folhetos coloridos como tão inócuo quanto o sal de cozinha.
No entanto, os dados dos estudos selecionados pela IARC (usando os mesmos critérios que a OMS utiliza para selecionar os próprios membros da IARC) não foram considerados suficientes para estabelecer de forma inequívoca o caráter carcinogênico do glifosato para humanos.
Ainda bem, pois um estudo de 2014 do Serviço Geológico Americano (USGS) publicado na Environmental Toxicology and Chemistry mostrou que, em muitas regiões dos Estados Unidos, o glifosato é detectável em cerca de 75% das amostras de ar e água de chuva analisadas. Ué, esquisito, pois a Wikipedia diz que ele é fortemente fixado nos solos e não deve migrar para os corpos d’agua. Que danadinho desobediente!
Pulverização de herbicida
Estudo realizado em 2014 mostrou que, em muitas regiões dos Estados Unidos, o glifosato é detectável em cerca de 75% das amostras de ar e água de chuva analisadas, embora diga-se que ele se fixa fortemente aos solos e não migra para corpos d’água. (foto: Will Fuller/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)


Reação instantânea

Como de costume, a Monsanto reagiu rápido à decisão da IARC e, em comunicado de 23/03, desanca a agência, que, segundo a empresa, teria se baseado em “ciência-lixo”. No mesmo dia em que foi divulgado o estudo da The Lancet Oncology, a empresa intimou Margaret Chan, diretora da OMS, em carta que vazou para a imprensa, a retificar a opinião da IARC, aparentemente sem sucesso, até aqui.
Enquanto isso, o glifosato está sob reavaliação pela Comunidade Europeia. Inquirida sobre sua opinião a respeito das conclusões da IARC, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (Aesa) esclareceu que a Alemanha é o país-relator dessa matéria e que seu homólogo alemão, o Bundesinstitut für Risikobewertung (BfR), algo como Instituto de Avaliação de Riscos, é o encarregado de fazer a avaliação do glifosato em nome da Europa. Seu veredicto, a ser ainda submetido à Aesa nas próximas semanas, talvez não apoie as conclusões da IARC, pela singela razão de que um terço dos membros do grupo de experts em pesticidas do BfR alemão é composto por assalariados diretos dos gigantes da indústria agroquímica e de biotecnologia.
O herbicida preferido por nove entre 10 estrelas do agronegócio pode causar sérios danos renais, inibir a reprodução normal (cruzes!), promover congestão pulmonar e aumentar a taxa respiratória, tudo isso em humanos
E nos Estados Unidos? Bem, foi em seu país-sede que a Monsanto treinou seu eficiente método de infiltração e cooptação de agências reguladoras, a começar pela Agência de Proteção Ambiental (EPA). O mesmo foi simplesmente replicado depois em escala global. A EPA mantém sua posição de que as evidências de potencial carcinogênico do glifosato em humanos são inadequadas (sic), mas tem planos de considerar (sic) os achados da IARC e talvez tomar alguma atitude no futuro. Enquanto isso, condescende em admitir que o herbicida preferido por nove entre 10 estrelas do agronegócio pode causar sérios danos renais, inibir a reprodução normal (cruzes!), promover congestão pulmonar e aumentar a taxa respiratória, tudo isso em humanos.
Mas, falando em globos e planetas, você viu alguma notinha sobre o palpitante tema na grande imprensa brasileira? Eu também não, e olha que procurei: está só na blogosfera, e em sites de notícias internacionais, como o do Le Monde, entre outros. Intrigado, visitei o site americano da Monsanto e achei o comunicado furibundo já comentado aqui, em inglês, claro. No site brasileiro da empresa, nadica de nada, nem em javanês. E olha que eu descasquei os 104 resultados da busca pelo termo glifosato no site. Já boladão, em desespero de causa, fui aos sites da Associação Nacional de Biossegurança(ANBio) e da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio): mesmo estrondoso silêncio.
Alô, câmbio? Não somos o maior consumidor de pesticidas do planeta desde 2008? O glifosato, em suas muitas formulações, não é o item principal dessa cesta química? Oops, esqueci de checar os sites da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Ministério da Agricultura. Mas não o farei. O texto já está longo. Deixo esse cuidado aos meus leitores.
Afinal, vocês também têm que fazer alguma coisa, não é?

Jean Remy Davée Guimarães
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro

sábado, 28 de março de 2015

Disputa de sentidos

http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/palavreado/disputa-de-sentidos

Disputa de sentidos

Em sua coluna de março, Sírio Possenti fala sobre a variedade de significados de uma mesma palavra em uma língua e discute o que está por trás de seus usos pelos falantes.
Por: Sírio Possenti
Publicado em 26/03/2015 | Atualizado em 26/03/2015
Disputa de sentidos
Muitos tentam definir um ‘sentido verdadeiro’ para as palavras, que, em geral, é o que mais lhe convém. Essa disputa discursiva se manifesta em várias situações do dia a dia. (foto: USDA)
Muita gente pensa que as palavras têm um sentido fixo e verdadeiro. Entre os defensores dessa tese, os mais sofisticados argumentam em nome de um sentido antigo, supostamente originário. Não deixa de estar implícita nessa tese uma generalização dela, segundo a qual antigamente tudo era melhor (do paraíso antes da queda às línguas antes de Babel).
Acontece que nunca houve Éden e que nada se sabe de antes de Babel. O que melhor se pode saber sobre as línguas decorre da observação cotidiana do que fazem com ela os falantes. E o que os falantes mais fazem com ela é puxá-la para seu lado.
Se se quer entender minimamente uma língua, talvez o melhor caminho seja olhá-la com olhos de sociólogo (em vez de consultar uma gramática ou um dicionário): e o que primeiro se vê é que ela não é (nenhuma delas) uniforme – assim como não o é nenhuma sociedade.
É mais comum que se observe a heterogeneidade de uma língua com base na diversidade de sotaques e de construções gramaticais (de que ‘nós vamos’ / ‘nós vai’ pode ser uma espécie de símbolo). Mas há tanta variedade de sentidos quanto de pronúncias ou de concordâncias verbais e nominais.

Dupla face

A disputa de sentidos se apresenta com duas caras. Uma delas consiste no fato de que uma parte da sociedade se recusa a empregar uma palavra, enquanto outra faz questão de empregá-la. Por exemplo, petistas não empregam a palavra ‘mensalão’ nem a palavra ‘petrolão’. A ombudsman da Folha de S. Paulo aprovou o emprego desta palavra pelo jornal, alegando que a sociedade a adotara. Ora, é fácil observar que só os adversários do governo (com razão ou não, isso é outro departamento) empregam a palavra; assim como só os adversários do governo de São Paulo empregam ‘trensalão’.
A disputa de sentidos se apresenta com duas caras. Uma delas consiste no fato de que uma parte da sociedade se recusa a empregar uma palavra, enquanto outra faz questão de empregá-la
Observe políticos falando de Dilma Rousseff: se disserem ‘presidente’ em vez de ‘presidenta’, é certo que votarão contra suas propostas na próxima ocasião. E vice-versa. Muita gente pensa que se trata de gramáticas. Inocentes, não sabem de nada!
A outra forma da disputa consiste em tentar definir o sentido das palavras. Em coluna recente, mencionei um artigo de jornal de Marcos Troyjo, que propunha uma definição de ‘conservador’ supostamente objetiva (ledo engano!).
Na Folha de S. Paulo de 22/03/2015 (C5), há um exemplo que parece menor, mas que, talvez por isso mesmo, é um argumento forte em favor dessa tese. O título da pequena matéria é ‘Paulistanos adotam apelido de ‘coxinha’ com tom político’ (um horror estilístico, mas isso não vem ao caso). Para que o leitor veja o quanto a questão do sentido importa, vale a pena chamar atenção para a afirmação algo paradoxal de que o termo não consta no dicionário, mas pode designar ‘massa frita com recheio de frango desfiado’.
Coxinhas
Embora não conste no dicionário, a palavra ‘coxinha’ pode designar um salgado de massa frita com recheio de frango desfiado. Mas ela também tem um sentido político ou sociológico, que vem sendo bastante empregado recentemente no Brasil. (foto: Thomas Hobbs/ Flickr – CC BY-SA 2.0)
(Dicionários têm políticas próprias para registrar ou não flexões e derivações. O Houaiss eletrônico, por exemplo, não registra ‘coxinha’, mas registra ‘coxa’ e registra ‘-inha’, com a regra de seu emprego). Mas no Google se pode ler tanto sobre o salgado quanto sobre um sentido político ou sociológico da palavra, que designa grupos específicos. Por exemplo, no site Significados.com.br, pode-se ler que: Coxinha é um termo pejorativo usado na gíria e que serve para descrever uma pessoa "certinha""arrumadinha". Tendo a sua origem em São Paulo, a palavra “coxinha” quase sempre tem um sentido depreciativo e indica um indivíduo conservador, que é politicamente correto e que se preocupa em adotar comportamentos que são aceites pela maioria das pessoas.
Não se trata, evidentemente, de um ‘sentido verdadeiro’. É um sentido marcado, talvez pejorativo (depende de como se avalia o conservadorismo, “certinho” e “arrumadinho”).
Todos os dias se registram sintomas dessa disputa discursiva. É ela que vai definir vencedores e perdedores nas outras disputas, seja por salário, seja por renda, seja por vagas nas universidades ou direito de frequentarshoppings e aeroportos
Mas meu tópico é a disputa de sentidos e seu registro em matéria de jornal, que, basicamente, noticia uma disputa, na verdade, uma tentativa de reverter o sentido pejorativo de ‘coxinha’.
Um jovem citado na matéria, por exemplo, declara que, para ele, a palavra significa “classe média trabalhadora, que não aceita mais essa roubalheira”. Nas redes sociais, informa a mesma matéria, circulam definições como “propenso ao trabalho e ao estudo” e “aquele que dá valor ao mérito”.
Todos os dias se registram sintomas dessa disputa discursiva. Pode parecer pouca coisa, mas é essa disputa que vai definir vencedores e perdedores nas outras disputas, seja por salário, seja por renda, seja por vagas nas universidades ou direito de frequentarshoppings e aeroportos.
Sempre que alguém reivindica o emprego das palavras em seu sentido verdadeiro, o leitor pode apostar: ele acha que o sentido verdadeiro é aquele que ele mesmo lhe atribui.
Muitos pensam que, assim, nunca nos entenderemos. Mas é óbvio que não. Se nos entendêssemos, por que existiria a história de Babel?

Sírio Possenti
Departamento de Linguística
Universidade Estadual de Campinas

Pika-de-Ili, mamífero 'fofinho' raro, é redescoberto em montanhas da China

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/03/pika-de-ili-mamifero-fofinho-raro-e-redescoberto-em-montanhas-da-china.html

21/03/2015 10h09 - Atualizado em 21/03/2015 14h40

Pika-de-Ili, mamífero 'fofinho' raro, é redescoberto em montanhas da China

Espécie foi descoberta em 1983 e foi vista raras vezes desde então.
Mesmo cientista que a descobriu conseguiu fotografar exemplar em 2014

Do G1, em São Paulo
  Rara foto de exemplar de pika-de-Ili foi fotografado em 2014 pelo cientista Weidong Li no noroeste da China  (Foto: Li Weidong/Wikimedia Commons)Rara foto de exemplar de pika-de-Ili foi feita em 2014 pelo cientista Weidong Li
no noroeste da China (Foto: Li Weidong/Wikimedia Commons)


















O cientista Weidong Li, do Instituto de Ecologia e Geografia Xinjiang, na China, descobriu por acaso uma nova espécie de mamífero em 1983: a pika-de-Ili (Ochotona iliensis). O pequeno animal, encontrado pela primeira vez na cordilheira Tian Shan, no noroeste da China, tem uma peculiar aparência de bichinho de pelúcia fofo.
Desde sua descoberta, foram raras as vezes em que o mamífero foi visto. Em 2014, durante uma expedição à cordilheira Tian Shan, o mesmo cientista que descobriu a espécie conseguiu registrar em foto uma rara aparição de um exemplar. A história do raro bichinho das montanhas e seu descobridor foi publicada na edição de março da revista "National Geographic China".
Weidong Li partiu para as monhanhas em 2014 com alguns voluntários justamente para procurar exemplares da pika-de-Ili, segundo a revista. O exemplar típico do mamífero mede cerca de 20 cm, tem orelhas grandes e pêlo acinzentado com manchas marrons.
Um artigo publicado na revista científica "Oryx" por Weidong em  2005 fala sobre o possível declínio do número de exemplares de pika-de-Ili nos locais onde o animal havia sido visto anteriormente.
Segundo o artigo, o aumento da temperatura devido ao aquecimento global pode ter contribuído para o "dramático declínio" da população da espécie. O autor recomendava que a espécie fosse classificada como ameaçada de extinção.

terça-feira, 17 de março de 2015

Cientistas desvendam segredo da mudança de cor dos camaleões

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/03/cientistas-desvendam-segredo-da-mudanca-de-cor-dos-camaleoes.html

BBC
11/03/2015 21h55 - Atualizado em 11/03/2015 21h55

Cientistas desvendam segredo da mudança de cor dos camaleões

Formas geométricas de cristais em células cutâneas refletem a luz de forma variada e permitem impressionantes trocas de cor, diz estudo suíço.

Jonathan WebbRepórter de ciência da BBC News
  Camaleão macho da espécie Furcifer pardalis fotografado em Madagascar  (Foto: Michel C. Milinkovitch/www.lanevol.org/Divulgação)Camaleão macho da espécie Furcifer pardalis fotografado em Madagascar
(Foto: Michel C. Milinkovitch/www.lanevol.org/Divulgação)

















Pesquisadores suíços descobriram como os camaleões conseguem trocar de cor: os cristais existentes dentro de suas células cutâneas se reorganizam em diferentes formas.
Acreditava-se, até então, que a famosa habilidade do camaleão vinha de coletar ou dispersar pigmentos coloridos dentro de diferentes células.
Mas a nova pesquisa afirma que a coloração mutante vem de uma seleção de cristais.
Além disso, o animal tem uma segunda camada de células, que refletem luz e parecem ajudar o animal a resfriar seu corpo.
Répteis produzem suas cores de duas formas: têm células repletas de pigmentos de cores quentes ou escuras, mas azuis mais claros e brancos vêm da luz refletida em elementos físicos, como esses cristais - são as chamadas "cores estruturais".
Essas cores também podem ser mescladas: um verde vibrante pode surgir de um azul coberto de pigmento amarelo.
Camaleões macho podem mudar completamente de cor, quando veem um parceiro em potencial ou um adversário.
Publicado no periódico "Nature Communications", o estudo é uma colaboração ente físicos quânticos e biologistas da evolução na Universidade de Genebra.
Primeiro, eles perceberam que não havia células de pigmento amarelo ou vermelho que pudessem explicar as trocas de cor no animal. Os cientistas acabaram percebendo que cristais dentro de células específicas formavam padrões bastante regulares - criando cores.
Luz
Captura aconteceu num piscar de olhos. (Foto: Caters)Captura aconteceu num piscar de olhos. (Foto: Caters)
















"Quando você observa com olhos de físico, você sabe que isso (os cristais) terão um efeito na luz", diz um dos autores, Michel Milinkovitch.
Ele e seus colegas passaram a investigar, então, se esses cristais poderiam explicar não apenas as cores fortes do camaleão, mas as mudanças dessas cores.
Milinkovitch explica que as formas geométricas adotadas pelos cristais mudavam quando o camaleão queria, por exemplo, se exibir diante de outro macho. O efeito final é o de um "espelho seletivo".
A luz passa pelos cristais e reflete cores de acordo com a distância entre as camadas de cristais. "Se a distância entre as camadas é pequena, reflete pequenos comprimentos de onda como azul; se a distância é maior, reflete comprimentos de onda maior, como vermelho", diz Milinkovitch.
E, ao retirar uma amostra de pele, os cientistas conseguiram eles próprios alterar os formatos dos cristais: colocando-os em água salgada e tirando os fluidos dela, eles reproduziram uma mudança de cor semelhante à ocorrida nos camaleões.
Sob a camada de células com cristais geometricamente organizados, os cientistas descobriram uma camada adicional, onde as células são muito maiores e desorganizadas, capazes de melhor refletir a luz. Acredita-se que possa ter a função de refletir a luz do sol e manter baixas as temperaturas do corpo do camaleão.
E essas diferentes camadas parecem ser uma particularidade dos camaleões, não observada em outros répteis.
Milinkovitch diz que os "camaleões inventaram algo completamente novo na evolução" com essa divisão de camadas, sendo uma especializada em mudar de cor e a outra, em reduzir a quantidade de energia absorvida pelo animal.
Devi Stuart-Fox, especialista em coloração animal e professor da Universidade de Melbourne (Austrália), se disse impressionada com o estudo suíço.
"Sabemos que outros lagartos mudam de cor ao mudar o tamanho e espaço entre os cristais, mas essa pesquisa é a primeira demonstração disso em camaleões, e o faz de forma muito convincente", afirma à BBC News.

domingo, 15 de março de 2015

Humanos ocuparam florestas tropicais há 20 mil anos, diz estudo

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/03/humanos-ocuparam-florestas-tropicais-ha-20-mil-anos-diz-estudo.html

13/03/2015 07h55 - Atualizado em 13/03/2015 07h55

Humanos ocuparam florestas tropicais há 20 mil anos, diz estudo

Antes, acreditava que florestas ficaram intactas até 8 mil anos atrás.
Estudo de dentes detectou dieta proveniente de itens achados em florestas.

Da EFE
Vista da caverna Batadomba-lena, local onde foram encontrados os fósseis mais antigos usados neste estudo (Foto: Patrick Roberts/Science)Vista da caverna Batadomba-lena, no Sri Lanka, local onde foram encontrados
os fósseis mais antigos usados neste estudo (Foto: Patrick Roberts/Science)

















Os primeiros humanos modernos se adaptaram para viver nas florestas tropicais há 20 mil anos, muito antes do período que se imaginava, sugerindo uma dieta composta de alimentos típicos desses ambientes.
Uma equipe de pesquisa internacional lançou uma nova luz sobre os alimentos dos quais os primeiros humanos dependiam e situa o momento em que nossos ancestrais começaram a viver e a depender dos recursos das florestas tropicais 10 mil anos antes do que se pensava.
O estudo, publicado nesta sexta-feira (13) na edição impressa da revista "Science", foi feito com dentes fósseis de 26 indivíduos, o mais antigo de 20 mil anos, que viveram no Sri Lanka e nos quais foram analisados os isótopos de oxigênio e de carvão.
O resultado foi que "quase todos os dentes analisados sugerem uma dieta baseada, em grande parte, em produtos das florestas tropicais".
Ocupação humana
Até agora, acreditava-se que os humanos não tinham ocupado essas regiões até o início da época conhecida como Holoceno inicial, há 8 mil anos, e, de acordo com as teorias dos especialistas, os humanos consideraram que a vida nessas florestas era mais difícil por haver menos comida e caça disponível que em espaços mais abertos.
O artigo da "Science" lembra que algumas pesquisas arqueológicas sugerem a possibilidade de os humanos terem ocupado esses ecossistemas há cerca de 45 mil anos, mas, nesse caso, não foi possível determinar se viviam nele ou se só entravam durante períodos limitados de tempo para desenvolver alguma atividade concreta.
Investigadores das universidades britânicas de Oxford e Bradford estudaram dentes fossilizados de 26 humanos, cuja idade oscilava entre 20 mil e 3 mil anos. Todos eles encontrados em três sítios arqueológicos do Sri Lanka, que hoje em dia estão cercados por florestas tropicais e campos um pouco mais abertos.
As análises mostraram que os humanos daquela época seguiam uma dieta procedente de "florestas tropicais intermediárias" e que só dois mostravam em seus dentes os sinais de uma alimentação com produtos das pradarias.
O diretor do estudo, Patrick Roberts, da Universidade de Oxford, afirmou que seus resultados indicam que os humanos evoluídos do Sri Lanka podiam viver quase que exclusivamente de comida encontrada na floresta tropical, sem a necessidade de se deslocar para outros ambientes.
"Nossos primeiros antepassados eram claramente capazes de se adaptar com sucesso a diferentes ambientes extremos'.
Agora, os estudiosos consideram que é necessário seguir com a pesquisa para estabelecer se esse "profundo nível de interação" dos primeiros humanos com as florestas do Sul da Ásia aconteceu também em outras regiões, como a Austrália, o Sudeste asiático e a África.

'Dia do Pi' é celebrado com data de 10 dígitos em 2015

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/03/dia-do-pi-e-celebrado-com-data-de-10-digitos-em-2015.html

14/03/2015 16h35 - Atualizado em 14/03/2015 22h12

'Dia do Pi' é celebrado com data de 10 dígitos em 2015

Data no formato americano corresponde a valor matemático. 
Com trilhões de dígitos, Pi representa razão de círculo por seu diâmetro.

Cauê FabianoDo G1, em São Paulo
Em homenagem ao "dia do Pi", vídeos na internet ensinam a fazer uma torta de chocolate com o símbolo matemático na cobertura (Foto: Reprodução/YouTube/Rosanna Pansino)Em homenagem ao "dia do Pi", vídeos na internet ensinam a fazer uma torta
de chocolate com o símbolo matemático na cobertura
(Foto: Reprodução/YouTube/Rosanna Pansino)













Para especialistas e entusiastas da matemática, este sábado, dia 14 de março especificamente, tem um significado bastante especial: é comemorado o Dia do Pi.
A data faz mais sentido quando vista no formato americano, quando o mês vem à frente do dia: 3/14/15. Adicionando o horário das 9h26min53s, a brincadeira fica ainda mais interessante e precisa, como uma peça encaixando perfeitamente em um quebra-cabeça.
Caso não seja um matemático ou não esteja com as memórias da época do colégio em dia, há uma explicação para tudo isso. Segundo seu site oficial (sim, a data possui um domínio dedicado a ela), o Pi é “a razão da circunferência de um círculo por seu diâmetro”. Em outras palavras, o diâmetro de um círculo é a distância da circunferência de ponta a ponta, medido por uma linha reta passando pelo centro.
Essa conta resulta em um número contante, iniciado por 3,14. Esse valor é o mesmo para todos os círculos, não importando o tamanho. E os dez primeiros dígitos de Pi correspondem exatamente a 3,141592653.
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Torta feita pela Universidade Técnica de Delft no 'Dia do Pi' (Foto: Wikimedia Commons)Torta feita pela Universidade Técnica de Delft no 'Dia do Pi'
(Foto: Wikimedia Commons)
























Especificamente em 2015, o Dia do Pi tem um significado bastante especial, já que é possível chegar até a última dos 10 dígitos de Pi utilizando a data e hora de hoje, lembrando, claro, de preservar o formato americano: 3/14/15, às 9 horas, 26 minutos e 53 segundos.
Até hoje, o número ainda não foi completamente revelado, mesmo com a utilização de super-computadores para realizar o cálculo. O valor poderia ter trilhões de dígitos.
Sendo assim, todo ano, pessoas do mundo todo fazem brincadeiras em 14 de março, aproveitando inclusive para fazer tortas com a letra grega “π”, que simboliza o pi. Isso se deve a outro trocadilho, dessa vez na língua inglesa, já que a pronúncia de Pi é a mesma da palavra “pie”, que significa torta.
A data também marca o aniversário do físico Albert Einstein e de Frank Borman, austronauta norte-americano que comandou a missão Apolo 8 (responsável pela primeira missão dos EUA que deu a volta a lua, em dezembro de 1968) e que assoprou 87 velinhas neste sábado.
Entre as pessoas que comemoraram o Dia do Pi, está o famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson, que não só celebrou a data em seu perfil no Twitter como deu informações sobre outros dias nos quais seria possível encaixar datas e dígitos de Pi, fazendo brincadeiras com o valor.
“O melhor dia de Pi: aos 53 minutos e 58 segundos após às 6 horas. 14 de março do ano de 1592: 3/14/1592; 6:53:58”, escreveu o astrofísico, adiantando que o próximo Dia do Pi com tantas coincidências numéricas ocorrerá fora da tradicional data de março.
Para que seja tão legal, segundo o americano e colocando o ano como primeiro valor, será apenas no ano 3141, no dia 9 de maio às 2h6min53s. O resultado é 3141/5/9, às 2:6:53.
'Há Pi para todos', brincou o astrofísico ao tuitar 99 dígitos de Pi (Foto: Reprodução/Twitter/Neil deGrasse Tyson)'Há Pi para todos', brincou o astrofísico ao tuitar 99 dígitos de Pi
(Foto: Reprodução/Twitter/Neil deGrasse Tyson)

Documentário Charles Darwin: a voz do evolucionismo


domingo, 8 de março de 2015

Cientistas publicam descobertas sobre evolução de pinguins

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/pesquisadores_publicam_novas_descobertas_sobre_a_evolucao_dos_pinguins.html


Cientistas publicam descobertas sobre evolução de pinguins

A energia necessária para nadar com eficiência provavelmente restringiu à capacidade de voo


Volodymyr Goinyk/Shutterstock
Pesquisadodres concluem que a capacidade de voo dos pinguins foi sacrificada para favorecer
melhor habilidade de mergulho ao comparar o custo energético das duas formas de mobilidade 


Por Matt Kaplan e revista Nature

Da revista Nature

Assim como muitas aves, pinguins precisam viajar muito entre seus locais de alimentação e reprodução. Mas em vez de voar, eles nadam. É uma jornada difícil, que deixa biólogos coçando a cabeça para saberem porquê as aves não mantiveram sua capacidade de voar quando sua capacidade de mergulhar evoluiu. Um novo estudo argumenta que aves não podem ser mestres de voos e mergulhos ao mesmo tempo, porque a capacidade de voar deve enfraquecer os animais adaptados ao mergulho.

Em vez de observar pinguins, uma equipe liderada pelo biólogo Kyle Elliott da University of Manitoba em Winnipeg, no Canadá, examinou espécies de aves marinhas mergulhadoras que ainda têm alguma capacidade de voo. Entre elas, o biguá-pelágico (Phalacrocorax pelagius), uma espécie que se impulsiona embaixo d’água com patas palmeadas, e o airo de Brünnich [NT: também conhecido como ‘airo-de-freio’], (Uria lomvia), que bate suas asas embaixo d’água para nadar.

Os pesquisadores marcaram os airos com gravadores que mediam seu tempo de mergulho, profundidade e temperatura, e os biguás com dispositivos que mediam profundidade, temperatura e mudanças de aceleração durante mergulhos. Eles também injetaram água marcada com isótopos nas aves. Quando, mais tarde, os pesquisadores testaram os pássaros, os marcadores permitiram que calculassem quanto dióxido de carbono e vapor d’água as aves haviam expelido desde que a água foi introduzida, e assim calcular a energia gasta com mergulhos e voos.

Em seguida a equipe comparou seus resultados com alguns que já haviam sido coletados para aves como gansos e pinguins. Eles descobriram que tanto os biguás quanto os airos devem gastar quantidades extremamente altas de energia para voar – as mais altas conhecidas entre todas as aves voadoras.

Quando o assunto era mergulhar, o custo energético para os biguás que usavam as patas eram muito mais altos que os esperados para um pinguim de tamanho semelhante. Os airos, que usam as asas para nadar, tinham custos de mergulho mais baixos que os dos biguás, mas ainda 30% maiores que os de pinguins do mesmo tamanho. Os resultados aparecem em Proceedings of the National Academy of Sciences.

As descobertas revelam que os airos estão diante de uma navalha evolutiva. Elliott e seus colegas especulam que, como as asas de um airo ainda são propícias ao voo, elas criam arrasto embaixo d´água. Além disso, seus corpos pequenos, que têm o peso exato para que decolem, esfriam mais rápido que os corpos mais volumosos de pinguins.

“Basicamente, eles têm que reduzir suas asas ou aumentar de tamanho para melhorar seus mergulhos, e ambos tornariam o voo impossível”, explica Robert Ricklefs, ornitólogo da University of Missouri-St. Louis e co-autor do artigo.

Assunto quente

Mas ainda restam perguntas sobre quanto dos custos energéticos das aves está relacionado a voos e mergulhos ineficazes, e quanto está relacionado a conservar temperatura.

“O problema aqui é que os airos e biguás perdem calor de maneira muito diferente”, observa o ornitólogo Rory Wilson, da Swansea University, no Reino Unido. “Airos carregam muito ar em suas penas e saem secos de mergulhos, enquanto as penas de biguás ficam ensopadas”, aponta ele. Wilson adiciona que biguás podem na verdade ser razoavelmente eficazes para voar, mas parecem ineficazes neste estudo porque estão usando muita energia para lidar com o vento frio que ataca seus corpos molhados.

Outros concordam com a equipe de Elliott. “É ótimo ver tão claramente que o voo é sacrificado em nome de uma melhor habilidade de mergulho”, declara James Lovvorn, ornitólogo da Southern Illinois University em Carbondale. “Agora o que realmente precisamos é de um experimento específico que leve em consideração os custos de se manter aquecido”

Este artigo foi reproduzido com permissão da revista Nature. O artigo foi publicado pela primeira vez em 20 de maio de 2013.

 sciam22maio2013